Curso online gratuito está todo disponível
- Lucas Puttini
- 20 de jun.
- 3 min de leitura
Ontem foi ao ar o último módulo do nosso curso on-line, em que tratamos da tarefa de proteger a madeira com acabamentos. Nesses últimos 2 meses os novos módulos foram ao ar toda segunda e quinta feira, chegando ao total de 17 módulos que somaram mais de 13 horas!

Oferecemos esse curso abertamente, na intenção de sistematizar ao menos uma boa parte desse corpo fundamental de conhecimento que usamos diariamente no trabalhar da madeira. A tarefa de definir os conteúdos e uma sequência de apresentação já é em si um desafio, dada a diversidade de abordagens e possibilidades práticas de um ofício tão universal como o da madeira. Certamente usar a madeira para facilitar a nossa vida é uma prática tão antiga quanto a nossa espécie biológica. A ideia foi de criar uma série introdutória, mas não rasa, que fizesse de alguma forma justiça ao imenso legado desse saber-fazer que recebemos todos. Não existem donos desse patrimônio.
O formato do curso foi então surgindo como um percurso inicial por esse território imenso e diverso. Pensamos em uma parte inicial que situasse o artesanato em madeira como uma expressão do nosso patrimônio imaterial coletivo, seguido por uma apresentação da matéria prima que trouxesse à tona suas principais propriedades sob o ponto de vista do artesão. O marceneiro, o carpinteiro, o escultor, o luthier, o tanoeiro, cada um desses desenvolve necessariamente um entendimento aprofundado do seu material à medida que se desafia e estende a sua prática. Isso não quer dizer que ele se torna um especialista nas propriedades da madeira no sentido científico, ou laboratorial, mas sim que ele é competente em avaliar as situações concretas que encontra e em tecer julgamentos muito refinados sobre a infinidade de variáveis de relevo para a sua realidade.
A parte prática que se seguiu foi organizada em função dos processos básicos: selecionar o material, cortar, aplainar, dimensionar, furar, encaixar, colar, proteger. Escolhemos nos guiar pelos processos para reforçar a noção de que a prática é sempre apoiada por dispositivos mais ou menos complexos, que existem em um contínuo, enquanto seus processos centrais permanecem. É fácil perder de vista a tarefa a nossa frente (por exemplo, criar uma superfície de referência para um dado encaixe) na ilusão de que o trabalho se fará melhor ou mais rápido com a ferramenta tal, o gabarito tal, a máquina tal. Como artesãos e artesãs do mundo moderno, me parece que estamos sempre em dança com a compra de uma nova forma de fazer: mais rápida, menos trabalhosa, que de repente resolve nosso desafio de entender e construir. Como se o comércio de novidades viesse nos salvar do próprio caminhar como artesãos: compre esse badulaque para não precisar aprender. Certamente as ferramentas (e as máquinas!) são importantes nas nossas rotinas, nos ajudam, possibilitam. Um problema surge é quando esses dispositivos nos tornam menos capazes, quando eles nos fazem hesitar em escolher o serrote, à medida que vão nos levando a suspeitar do nosso corpo, dos nossos olhos, da nossa capacidade de aprender e melhorar. Eu escolhi o artesanato como rota de escape da alienação completa que o comércio virtual moderno nos oferta. Como caminhada sem fim rumo ao mundo material, de texturas, organicidade, diversidade, possibilidade. Como trajetória de fuga de tudo que é mais, tudo que é maior. Na procura, ainda que errática, pelo que é ínfimo e silencioso. Na esperança de me colocar em meio de algum ato de cuidado e gratidão. Organizar o curso a partir dos processos mais básicos é uma tentativa primeira de nos lembrar de como o ofício é simples e deve permanecer acessível.
Gosto de ver como o curso acaba sendo em si um artesanato: incompleto e imperfeito, reflexo das pessoas que o fizeram. Quem sabe, por ser artesanal, o curso seja capaz de sugerir novos-velhos caminhos.
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